terça-feira, 28 de novembro de 2017

pensamentos

O ato de escrever se dá em casa, no silêncio, no espaço do aconchego. O de criar está. Está a todo o momento, flashes de palavras, movimentos, cenas, capítulos e notas. Às vezes tanto, sigo arrebatada pelo desenrolar da vida.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

de repente 30

Sempre que revisito meus textos me surpreendo com certa inocência, me deparo com alguma esperança lânguida. Reler parte do material aqui me ajuda a lembrar os caminhos percorridos e perceber o estado em que me encontro.

Eu usava palavras mais bonitas e escrevia com mais intensidade, talvez. Deixei os anos mediarem meu crescimento e o cuidado com o meu bem estar. Ainda choro, sofro, sinto e, definitivamente, passei a brigar mais do que eu brigava, mas acalmo mais fácil. Amores, todos os amores da vida, vieram e se foram, eventualmente voltaram e foram de novo, é um fluxo. Como eu escrevia sobre meus amores, encontros de alma, pessoas inspiradoras; cada amor novo seria o último. Ingenuamente doce.

No momento, não sei se amo e essa instabilidade me instiga a perceber o outro de outro modo. Somos frágeis, sensíveis e instáveis. Não sei se amo aquele que lembrou a minha distância da torre da princesa à espera de um salvador, essa bobagem que aprendemos nos livros da infância. Não sei se amo aquele de quem sinto falta, saudade, por quem choro rápido, me recomponho e retorno à vida. Não sei se amo aquele que eu já disse tantas vezes amar. Não sei se amo, se minto, se corro ou se imagino nossa vida juntos, acho que tudo isso. Não sei se quero uma vida juntos. Não sei se preciso saber agora. Sinto um apertinho no peito em saber de seu voo de volta. Uma dose de felicidade e questões, muitas questões, mais do que a certeza adolescente deste blog. E outra dose de felicidade em poder tocar. Tocar, coisa tão simples.

O fato é que, entra ano, sai ano, eu continuo falando de amor.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Des Abends, der nacht

Guardo mais consciência da liquidez das coisas
não sei se chamo mesmo consciência
um jeito novo e meio velho de enxergar a vida
ou o fechar de olhos e abrir
destapamento inconsciente de poros e veias
ou só um escape de deixa-la fluir

Guardo, aquieto ou desfaço
imprimo em letras um sofrimento que não pode ser acessado
nem ao menos pelo esquecimento
fingindo ser o texto um poema
encadeado de ideias, pulo linhas
para baixo, como as vezes tudo parece correr

outra estrofe e me sinto melancólica
são as noites que me congelam com seu frescor
essa pureza toda que fingimos existir
é que é na noite que estamos mais vulneráveis
no cansaço e na tentativa frustrada de curar a dor do dia
todo dia, toda noite

derreto-me
liquefaço-me
escorro entre as pernas
sem gozar de nada
a vida






https://www.youtube.com/watch?v=5Jb-iHPz3tk#t=66

sábado, 10 de janeiro de 2015

Por que não vai? (ou Pormenores)

Tenho de ti uma névoa madrugada
Mãos pelos cabelos lisos e grossos
Estado de estar escondido no meio da multidão
Pouco e muito tenho de ti

Guardo-te ainda em nenhuma caixa
Penso que não caberias
Nem dentro daquele apartamento pouco mobiliado
Onde tanto intenso se circunscreveu

Por aquilo que acho pradaria onde passo
Lembro teus olhos refletidos atrás dos meus
Estavas invertido
Eu pensando ser meu erro o que era crasso

Não te culpes, bem amado,
A distância semi-imposta estava à revelia dos fatos
Quis entrar nos teus espaços
Assim como depois entraria no meus

Ainda és bruma, não te conheço nem o mínimo
possível para amá-lo como se fosses
aquele que povoa minha mente
Num noitedianoite incansável

Me afasto, porque é o óbvio a fazer
Mas vens inacessível, uma frase
Um colapso
Tudo se esparrama ao menor contato

Ainda assim...
Num tudonada diferente em mim...
Nenhum outro imã me veste como o teu

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

chuva

A chuva caia repleta de gotas circunscrevendo a madrugada enquanto eu andava com as chinelas lisas pelo tempo de uso, me escorregando nas pinturas do chão. Mas é que daí eu pisquei. Na minha memória, ele passaria a mão na nuca para sempre, imberbe, boca entreaberta de concentração na matemática. "Irremediavelmente apaixonados pelo resto da vida(*)", mas o resto da vida era muito tempo. Seus pequenos olhos sob as sobrancelhas arqueadas, problema insolúvel sobre a folha de papel e aquele momento congelou, me aquecendo. Concentrado, ele era sempre nu, deixava-se ver por inteiro e minha felicidade sabia que sua entrega não era por minha causa. Pisquei e perdi o ponto, corri pelas vias molhadas e segundos depois não tinha controle. É que, estatelada, do chão, já não dava pra voltar atrás. Fico em dúvida se em alguma ocasião haveria tal possibilidade...
(*) Virginia Woolf, As ondas. Na edição da Novo Século,  página 40.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Momento

Parece existir toda uma poética nessa busca que tenho feito em relação a minha movimentação. Me sinto um pouco como um artista dos desenhos procurando o seu traço... Relendo alguns textos, percebo que estou falando sobre quase as mesmas coisas faz tempo e nunca me havia dado conta. Acho que eu não havia me dado conta de quem eu sou nesse mundo... Bom, acredito ter encontrado algo, nada que seja suficiente para concluir buscas e pesquisas; só pra botar mais lenha.
Como Ismael disse uma vez, "um bom coreógrafo não deve se apaixonar pelo seu trabalho" e eu estou bem longe disso, mas faz sentido pensar nessa frase como mais um incentivo a uma procura constante.
Vou indo não sei pra onde, e ao mesmo tempo é engraçado porque o caminho está cheio de mim mesma. E não só de mim, mas de interações. Com os olhos bem abertos vou, devagar, parando de me esconder e tomando a coragem de falar.

Estou feliz por me sentir viva outra vez.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Fenster... Freiheit

Se fechar os meus posso ver os teus
mas isso aqui não tem lugar
presa em uma emboscada que eu criei
fico atrás de uma janela
Uma janela para a liberdade

Esta manhã me acordaram pássaros verdes
Um prenúncio de felicidade
me pergunto qual o porque de estar
já que o grosso do vidro (ou seria o cinza do tempo?)
Realiza tudo o que é distante

É apenas desatino
Não sofro pelo inexistente
A vida segue rolando ladeira abaixo
São contas, contos e espantos os diários
Pra aquilo, aqui não tem lugar...

somente há falta.